-Está bem. – Foi só o que eu lhe disse, zangada
com o mundo, mais nenhuma palavra o satisfez. Foi nessa altura que ele me
agarrou no rosto, passou as mãos pelos meus lábios e pregou-me um beijo lento e
conquistador, quente e dócil o suficiente para me fazer voltar a choramingar,
não sei se de tristeza se de felicidade. As suas mãos percorreram o meu pescoço
e os meus braços frios e chegaram à minha cintura e como se eu fosse cair pegou
nela e chegou-me mais para o calor do seu peito. Eu chorava porque nessa altura
era só o que conseguia fazer, tal como nos filmes e nos livros sentia uma certa
efervescência nos punhos que me faziam querer esmurra-lo não no peito como
qualquer bela actriz, protagonista ou heroína, mas na cara tal era a minha
cólera, fúria, indignação para com Gabriel e para com a insegurança que ele
plantara em mim. Mas não tinha força, continuei apenas a chorar agora no seu
ombro desprovida de qualquer energia, ele acalentava-me e passava as suas mãos
pelas minhas costas causando-me calafrios. Pegou em mim e deitou-me na cama, finalmente
chegara ao meu destino, só não contava que Gabriel se deitasse junto ao meu corpo
cozendo a minha pele à sua, formávamos a nobre concha tão aclamada pelos apaixonados.
Parara de chorar. Perdi a conta ao tempo e depois
de ter secado e de o frio se começar a apoderar dos meus ossos e da minha carne,
fui encontrar o seu olhar:
-Não tens que ir trabalhar?
-Tenho.
-Não vais?
-Não.
-Está bem – Disse-o de novo, não lhe facultava mais
nenhuma palavra.
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