Minha querida Lua, minha querida Mãe, meu querido Pai

Minha querida Lua, minha querida Mãe, meu querido Pai

Eu sei que não tenho de me envergonhar perante a tua presença, a tua majestosa presença, mas acaba por ser mais forte que eu. E no final de contas tens sempre razão. E eu sei, eu sei que se as cartas tivessem chegado mais cedo, as respostas não seriam tão tardias e as soluções tão difíceis de encontrar. Os problemas não chegariam tão gordos e feios. Eu sei, eu sempre soube, mas teimosa como sou, fecho os olhos e perco-me no escuro. Teimo em encontrar a saída, mas não faço por isso.
Tapo os ouvidos aos conselhos sábios, às conversas atenciosas, compreensivas e rigorosas. E tu Lua, hoje tomas papel de minha mãe, porque como as cartas nunca chegam a ela, escrevo para ti para que ela uma dia as possa ouvir.
Eu tenho oportunidade de lhe dizer tudo isto. Mas assim como as cartas para ti foram tardias, para ela serão ainda mais porque quando me junto a ela, a minha voz potente e corajosa que fala contigo, sem medo algum. Torna-se fininha, baixa e doente, com um medo latente de dar milhões de passos em falso.
 Minha mãe, minha querida mãe que me ouve, que me prende, mas nunca deixa de me ouvir, tu que tens a voz mais bela, a voz mais sábia, uma voz imperfeita, por vezes sem razão alguma. Mas uma voz que acerta sempre no ponto. Por vezes, depois de tentativas falhadas, mas no final acerta sempre no ponto.
Mas porque é que eu não te oiço quando devia? Porque é que eu cabeça oca (por vezes), oiço todos menos a voz mais sábia? Fazes queixas à minha pessoa, queixas-te das palavras que eu não te digo e das asneiras que faço. Queixas-te das palavras ensurdecedoras que te batem na cabeça e em casos raros perfuram o coração. Não és perfeita, nada disso. Tens milhões de defeitos, assim como eu e a Lua. Eu sei que tens, e por vezes custa-te admiti-los. Mas todos eles tem uma beleza entranhada em si.
A cada dia que passa, soltas-me mais um pouco da tua asa. Mas eu criança, rapariga, mulherzinha, um dia Mulher (com M grande),  e quanto esse dia assusta!
 Mas vai chegar graças a Deus, graças à Lua, graças a Ti. Eu coberta de defeitos, dou passos em falso, e tu sentes-te na obrigação de me prender, e à medida que me soltas, prendes-me, soltas-me e prendes-me. É a lei, a lei da vida. É simplesmente uma lei, uma Lei Qualquer, é assim que eu a vou chamar - a Lei Qualquer!
 Mil perdões, mil desculpas,  Dá o nome que entenderes a estas mil palavras cobertas de uma culpa inocente.
Desculpa pela confiança perdida, mas acima de tudo desculpa por seres a última voz que eu oiço, quando é a voz que deveria ser a primeira a ser ouvida, no volume mais alto.
E agora para ti Pai, tudo o que disse à mãe, digo-te a ti mais mil vezes, com mais mil perdões, mais mil forças. As vossas palavras são as mais belas, e as que deviam ser mais sentidas. Por isso lê as linhas acima escritas mil vezes, dez mil vezes, cem mil vezes, as vezes que quiseres. São verdadeiras, são o meu "eu" escondido, transparente. Despido de erros e vergonhas, desconfianças. Simplesmente o meu "eu".
Agradeçam à Lua por ter respondido à minha breve mas sentida carta de auxilio. Agradeçam por trazer a razão de volta à minha cabeça preenchida de ideias, e confusões, medos e preocupações.

E quem sabe talvez um dia eu vos envie esta carta.

Obrigada Lua por ouvires, por ensinares, por acarinhares. Mil tudo para ti minha grande tudo.