Companheiro, soldadinho de papel.
É assim que te vou chamar, e hoje esta carta é para ti. Vai ter como único, singular e interminável tema, as palavras.
Um dia gostei. Mas agora? Não gosto de te escrever cartas, nem de te sussurrar segredos ao ouvido. Prefiro a Lua, mil vezes a Lua. A Lua ouve os sussurros e lê as cartas, agradece-me com beijos e estrelas. Mas não fala, sorri-me com o mundo e não questiona as nobres palavras que lhe ofereço. Tu, soldadinho de papel, agora meu companheiro, questionas tudo o que digo com interrogações subordinadas, tentativas algo conseguidas de as distorcer, e acima de tudo perguntas sem alguma resposta.
Fiz-te de ferro, mas depressa te fundi com tamanho calor. A madeira não te assentou tão bem como eu esperava e por fim fiz-te de papel, algo frágil e moldável. No fundo és um suporte, o suporte das palavras prometidas, nunca antes ditas. Palavras essas protegidas, perdidas e consumidas. Lúcidas e fugidas.
As palavras que prometi nunca dizer, companheiro.
Pois é mesmo, Raquel. Obrigada, beijinho*
ResponderEliminarEnganas-te, não és a única a compreender os teus textos. Qualquer um deles.
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