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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ursa Maior

Meus caros, sei bem o que vos custa (a alguns) ler estes textos quase intermináveis a vossos olhos. Bem, este em especial resulta de uma tarefa que a minha professora de português me mandou fazer. E sinto-me especialmente orgulhosa dela. Aqui fica.





O sol estava a pôr-se, a morrer naquele céu, cansado de mais um dia de infortúnio e tormento. E assim como todos os outros marinheiros, também eu fazia as minhas contas, com alguma sorte talvez sobrevivêssemos a mais duas gélidas noites aqui no pólo. Nada mais que isso. A comida é escassa, para além de estar podre. Se não morrermos sem ela, morremos com ela. E apesar de haver tanta água em meu redor, muito pouca serve para matar a malvada sede que nos seca e liquida, atormentando-nos mais um pouco, como se não bastasse.

Alguns dos homens já estão meio mortos, deambulam no convés com o estômago colado às costas, fantasiados de cadavéricas figuras. Já insanos, rogam preces aos seus deuses todos poderosos, sussurram promessas e orações, com a vaga e débil esperança que um dia voltem a avistar a sua terra.

Perdi a conta de há quanto tempo estou no mar, anos! De certo que sim. O gelo em meu redor alimenta-se da minha carne, tem a sua dose diária e quando já está farto, deixa-me descansar e eu inauguro de novo as minhas forças. A dor mistura-se com o rum, anestesiando um pouco os meus dedos.

Mas a saudade mata mais que a fome, é mais negra e inquieta. Enquanto a fome faz doer o estômago, a saudade magoa o coração que teima em bater. Os olhos ardem quando recordo a minha família e segregam um liquido que eu como homem que sou, desprezo.

E como a lua hoje não me visita, escrevo as minhas últimas palavras a vocês estrelas. Há dias contaram-me uma história e agora já vos posso tratar pelos nomes. Guiamo-nos por vocês há noites sem fim, mas amaldiçoados como estamos, não há mais trilhos nem caminhos a seguir. O mais insano, doente, louco, doido do barco, tratou-vos por Ursas, a Maior e a Menor, a história da mãe e do filho, do amor traiçoeiro. Eu nada disse, não querendo parecer tão louco como ele. Mas porque não? Porque não sou eu Louco e tu Ursa?

Lembras-me o meu filho. Não tenho medo da morte, mas temo não voltar a vê-lo mais nenhuma insólita vez. E como não tenho fé em Deuses omnipotentes, omnipresentes e todos poderosos, rogo-te orações a ti minha cara, esta noite eu oro para ti. És a minha última esperança e se não me consegues leva-lo até ele, leva-o até mim, em sonhos …

Porque o caminho por onde nos guias é o mais longo. Terra? Não a vejo.

Até Sempre querida estrela, querida Ursa, ao que parece a minha casa é junto a ti, sempre foi.

1 comentário:

  1. Fantástico raquel, absolutamente fantástico! Muito bom mesmo , asério! Adorei !

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