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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Não o oiço


Lua, a Lua é um lugar agradável. Algo vazio.

Ando de certa forma perdida, há dias que tento sentir o meu coração e não o encontro. Não o encontro! Tento ouvi-lo bater, mas ele foge de mim! Foge de mim assim como os meus pés também o fazem. Acham que não mereço ouvi-lo por isso afastam-me dele.
Pelo menos é isso que eu penso. Por isso ando, vagueio descalça por um chão que não conheço, não sei se será terra, alcatrão, azulejo, ou o que quer que seja. Sei que é quente, mas que me esfria os pés ao mesmo tempo que os aquece. É algo doloroso mas faz-me manter acordada. A única dor que tenho é nos olhos, que teimam em fechar. Nos olhos, e dentro das veias do meu corpo, parece que o que o percorre não é mais sangue mas sim algo venenoso que me faz cambalear. Sinto-me doente.
Nas mãos? Não é dor, é dormência acompanhada por exuberância. Uma miscelânea de dor e calor. Não consigo perceber o que.
Se for castigo, suponho que o mereço.
Não encontro nenhum espelho, gostava de ver o meu aspecto. Tenho um vestido que percorre o meu corpo até aos pés algo cansados. Não consigo ver a cor porque tudo há minha volta é escuro. Se pudesse olhar-me decerto viria uma palidez mortífera, uns olhos entreabertos, e os cabelos molhados. Sinto-os molhados a escorrerem agua para os meus ombros. Suponho que seja água, espero que seja água.
 Não sabe a água.
Tenho a boca seca e um pouco disso que me corre pelos cabelos, decerto saciava-me se não tivesse um sabor tão intragável. Não o reconheço. Estou feliz por isso.
Estou cansada.
Não o oiço. Gostava de o ouvir, far-me-ia bem, dar-me-ia alguma força. Onde estão todos?
Estou cansada.
Não o oiço.
Na lua não há som, eu estudei isso! Não te oiço, mas bate, por favor bate!




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