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sábado, 20 de novembro de 2010

A arte de atirar ao ar (parte II)

Ana Sofia Gregório
Ele sabia bem do que era feito. Não havia meias palavras, nem perguntas sem respostas. Sabia o que queria fazer até morrer e isso era o mais importante. Depois do malabarismo, depois de desistir das laranjas, atirou-as ao ar, ele sabia que iria ter sempre a sua arte, quer seja em forma de laranjas, de pinos, de fogo, ou de outra qualquer ...
Mas agora faltava-lhe a motivação, faltava-lhe o pôr-do-sol ao fim do dia, e a luz da lua, faltava-lhe a Ruiva, sabia o nome dela, sabia bem, escrevia-o todas as noites no céu com tinta brilhante, Clara, clara, clara. Fazia-lhe lembrar ovo, casca de ovo, o quão frágil era casca de ovo, e graças à sua capacidade de observar , sabia que a Ruiva era tudo menos frágil, era poderosa, era alguém entre tantos... Ruiva é um nome bem mais poderoso, decidiu chamar-lhe assim .
Acabou por partir, não sabia bem para onde, mas graças aos seus meios de investigação acabou por saber que ela simplesmente tinha partido, sem norte. E depois de tanto se questionar e esperar (coisa que era rara, neste malabarista de palavras, de laranjas, de paixão). Partiu também ele, com nada, sem tudo ...
Acabou por chegar ao teatro (foi o que lhe disseram, ela gostava de teatro, não de representar, mas de ver, de sentir, de respirar, aquele lugar foi mais um dos seus palpites combinados com  a informação preciosa que lhe dera uma das loucas amigas da Ruiva).
Acabou por fazer daquela outra arte, mais um pouco da sua vida. Não sobressaia, mas também não o queria, era graças a ele que quem devia brilhar, reluzia entre os restantes ... Aprendeu a amar e mais uma vez a viver dos actos, das cenas, dos musicais, dos dramas, de tudo e mais uma vez de nada ... Espera todas as noites, por ver um longo cabelo ruivo, via muitos ao longo das noites, mas nenhum pertencia aquela poderosa Clara.

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