Segunda oportunidade

Narciso - segundo o wikipédia. Narciso era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope, famoso pela sua beleza e orgulho. No dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.
Então Zeus, o deus grego, reparando com quanto deleite Narciso contemplava a sua própria figura, infundiu-lhe um amor desmedido pelo seu próprio eu. Narciso enamorou-se perdidamente por si mesmo. E quis alcançar a sua imagem atirando-se ao tanque, onde morreu infeliz por não se poder possuir.


Desta bela história, nasceu ainda uma outra variante...
A sua beleza era irracional, tinha algo de misterioso e irreal. Todos a admiravam, mas ninguém se atrevia a falar-lhe ou a olha-la fixamente, talvez por receio … Seria tanto encanto demasiado para uma só pessoa? Ninguém sabia, nem ninguém tentava compreender, todos se confinavam a olha-la de relance. Consagrava-se herói aquele que prendia o seu olhar naqueles olhos brilhantes que transpareciam algo ilusório. Todas as manhãs, vagueava pelo jardim, onde o odor a margaridas invadia o ar. Já houvera quem a tentasse, mas nunca ninguém alcançara o seu objectivo. Deusa, Feiticeira, Princesa? Com muitos nomes a julgavam, mas por nenhum ela respondia. Faltava bravura àqueles que a admiravam.
Sentada naquele muro de pedra gélida que cercava as águas do profundo lago, admirava a sua beleza… Relembrou a historia de Narciso… Seria esse o seu destino? Não o sabia … Desatou a fita que atava o seu longo cabelo e sacudiu-o de um modo repentino. E numa fracção de segundo, sentiu um impulso vindo de trás, e quando deu por si, tinha caído nas águas do lago, não sabia nadar, mas também não estava a gritar …
Chapinhava como um cisne num momento de aflição e tentava aproveitar todo o ar que conseguia. Mas então, as águas tremeram e deparou com um outro corpo junto ao seu que a elevou no ar, e seguido de um penoso salto a deitou no chão frio. Ele olhava-a fixamente… Tinha noção que ainda á poucos minutos a tentaram robar-lhe a vida, mas agora uma atitude de vencedora a inundava. Olhava para o rosto de alguém tão bonito como o seu. Ele tapou-a com a sua camisola seca e ficando em tronco nu, pegou-a ao colo, e esboçou-lhe um sorriso, beijou-a na testa e disse-lhe ao ouvido:
- Vai ficar tudo bem !

Até agora, ninguém estava a par desta versão. Mas nascida de um momento de inspiração, deu origem a algo mais recente, talvez a uma segunda oportunidade, nesta serie de metamorfoses, a que se dá o nome de vida .